Desigualdade de gênero também está no saneamento

No Dia Internacional da Mulher, lembramos da persistente desigualdade de gênero no saneamento, com grandes impactos na saúde de meninas e mulheres

Em muitos países, estudantes adolescentes não têm acesso a um banheiro limpo ou espaço privado na escola para trocar seu absorvente (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Em muitos países, estudantes adolescentes não têm acesso a um banheiro limpo ou espaço privado na escola para trocar seu absorvente (Rovena Rosa/Agência Brasil)

No Dia Internacional da Mulher, é importante lembrar dos desafios representados pela persistente desigualdade de gênero em tantos aspectos sociais e econômicos. Estes incluem o saneamento. Aliás, pode-se dizer que uma das desigualdades entre homens e mulheres mais perversas e humilhantes está justamente relacionada ao saneamento: é a dificuldade de acesso à higiene e saúde menstrual que aflige mulheres de várias idades. É uma privação que começa na infância e segue até a vida adulta.

Meninas sofrem com informação, produtos, serviços e equipamentos precários ou inexistentes quando se trata de saúde menstrual. Em 2024, um estudo do Unicef e da OMS (Organização Mundial da Saúde), intitulado “Evolução no acesso à água potável, saneamento e higiene em escolas 2015-2023: foco especial em saúde menstrual”, trouxe dados globais sobre o problema.

No mundo, apenas duas em cada cinco escolas (ou 39% do total) fornecem educação sobre saúde menstrual. Ainda segundo o levantamento, 69% das escolas do mundo não têm recipientes para descarte de absorventes no banheiro feminino. A falta é mais grave em certas regiões: na África subsaariana, apenas 1 em cada 8 escolas disponibilizam acessórios para menstruação como absorventes ou tampões (de forma paga ou gratuita). 

O estudo do Unicef e OMS lembra também que em muitos países, estudantes adolescentes não têm acesso a um banheiro limpo ou espaço privado na escola para trocar seu absorvente.

Um desses países é o Brasil. Em outro estudo do Unicef, “Pobreza Menstrual no Brasil – desigualdades e violações de direitos” (2021), realizado em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), 3% das alunas brasileiras (321 mil estudantes) estão em escolas que não possuem banheiro em condições de uso; 1,24 milhão (11,6% do total) não têm à sua disposição papel higiênico e mais de 3,5 milhões estudam em escolas sem sabão nos banheiros.

O documento do Unicef e UNFPA lembra que garantir água potável, saneamento e higiene (resumidos na sigla WASH) de forma equânime está contemplado pelo ODS 5 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável), que visa “realizar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”. O órgão das Nações Unidas afirma ainda que as desigualdades de gênero impedem a realização das metas do ODS 6, relacionadas à água e saneamento.

Essa discrepância segue pela vida adulta. No Brasil, 38,2% da população feminina reside em casa sem coleta de esgoto, e 25,6% das mulheres não são abastecidas com água tratada com regularidade. Em algumas regiões a situação é pior: no Norte e Nordeste, uma em cada duas mulheres não recebe água tratada. Os dados são do estudo “O saneamento e a vida da mulher brasileira 2022″, do Instituto Trata Brasil/BRK Ambiental. 

A falta de acesso tem consequências na saúde de meninas e mulheres. Também segundo o estudo do ITB/BRK, o acesso a saneamento poderia reduzir em 63% as doenças ginecológicas em mulheres entre 12 a 55 anos no país.

A relação entre acesso a saneamento e saúde das mulheres também foi destacada por Maria Neira, diretora do departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS, à época do lançamento do estudo do Unicef e da OMS. 

“Mulheres e meninas não só enfrentam doenças infecciosas relacionadas a WASH, como diarreia e infecções respiratórias agudas, como também enfrentam riscos adicionais à saúde porque são vulneráveis ​​a assédio, violência e ferimentos quando precisam sair de casa para buscar água ou apenas para usar o banheiro”, afirmou.

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