Conferência sobre a Água mostrou capacidade de união da sociedade civil brasileira
Publicado em 06 abr 2023
Escrito por Equipe IAS
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A realização da Conferência sobre a Água da Organização das Nações Unidas (ONU), no final do mês passado, após mais de 40 anos do último evento do gênero, foi entendida pela sociedade civil brasileira envolvida com o tema como uma grande oportunidade de mobilização e organização.
Foi assim que 14 organizações que estariam na conferência, com o Instituto Água e Saneamento (IAS) entre elas, se juntaram para enviar ao governo brasileiro um pedido para que enviasse uma delegação qualificada ao evento. Conseguiram o apoio de 122 organizações para a mobilização e uma resposta à altura do governo, com a delegação chefiada pelo secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), João Paulo Capobianco.
Com um posicionamento alinhado às expectativas da sociedade civil, Capobianco enfatizou, na plenária e nas várias instâncias em que participou durante a Conferência sobre a Água, entre 22 e 24 de abril, na sede das Nações Unidas, em Nova York, que o acesso à água e ao saneamento é uma forma de inclusão social e redução das desigualdades e é necessário incluir as mudanças climáticas quando se fala em gestão dos recursos hídricos.
O chefe da delegação brasileira enfatizou a importância do compromisso do governo com o desmatamento zero como fundamental para garantir a segurança hídrica no país, assim como de se garantir o acesso à água como um bem público e o papel do governo para garantir esse direito.
Além disso, afirmou que o país deverá apresentar seus avanços e compromissos em relação ao tema durante o Fórum Político de Alto Nível da ONU, em julho próximo, também em Nova York, quando serão avaliados os avanços dos países rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).“A sociedade civil brasileira conseguiu sensibilizar o governo para a importância da participação na Conferência e sobre a centralidade do tema água para a agenda de governo e protagonismo brasileiro”, disse Mariana Clauzet, responsável por Redes e Parcerias do IAS.
Mas a presença das organizações da sociedade civil brasileira, uma das maiores delegações da Conferência, segundo Telma Rocha, diretora programática da Fundación Avina, não se resumiu a isso.
Manifestos pela água
Além da participação e organização de dezenas de eventos, os ativistas brasileiros participaram da produção e encaminhamento de manifestos importantes, como o Manifesto Justiça da água, entregue à direção da ONU e citado pelo Relator Especial da ONU para os Direitos Humanos à Água e ao Esgotamento Sanitário, Pedro Arrojo Agudo, durante os Diálogos Interativos; o abaixo-assinado liderado pela Avaaz com 560 mil assinaturas, entregue ao secretário-executivo do MMA, pedindo ao governo brasileiro que garanta o Direito Humano à Água; e o Manifesto das Mulheres pela Água, lançado pela Rede das Mulheres de Língua Portuguesa pela Água.
Foi também uma oportunidade para estreitar laços entre entidades que já atuam juntas e conhecer novos parceiros, com destaque para coletivos de jovens, como o Engajamundo, além da troca de experiências com instituições de vários países. Também tiveram contato com representantes de órgãos e empresas ligados à água e saneamento no país, e parlamentares, como as deputadas federais Duda Salabert e Camila Jara, e a deputada estadual por São Paulo Marina Helou.
O que vem pela frente
Todas essas interações devem gerar frutos daqui para frente. Um primeiro resultado foi uma reunião de avaliação das organizações com a equipe do governo federal, que deverá resultar na formação de um grupo de trabalho para colaborar com o governo na área de água e saneamento.
“Estar na Conferência propiciou às organizações fazer grandes articulações, trabalhar em conjunto em variadas agendas das diferentes partes do Brasil, identificando pautas comuns, como o reconhecimento da água como bem público, com direito de acesso a todos. Os desdobramentos disso são promissores para alcançarmos bons resultados de gestão da água e universalização do saneamento básico no país”, completou Mariana.