Água e saneamento desiguais podem ter impacto na paz e estabilidade social, diz ONU

Lançado no Dia Mundial da Água, edição 2024 de relatório para o setor traz dados e referências que relacionam acesso à água e saneamento a um futuro de paz e prosperidade

Publicado em 26 mar 2024

Escrito por Equipe IAS

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Mulher pega água do esgoto em Porto Príncipe, capital do Haiti (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Mulher pega água do esgoto em Porto Príncipe, capital do Haiti (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

As complexas relações entre água, prosperidade e paz são esmiuçadas na edição 2024 do relatório sobre desenvolvimento da água das Nações Unidas, lançado em 22 de março, no Dia Mundial da Água. “O progresso em uma dessas dimensões pode ter repercussões positivas, frequentemente essenciais, em outra”, resume o documento.

O mote do DMA escolhido para este ano foi “Água para a Paz”. O relatório, intitulado “Água para a Prosperidade e a Paz”, busca demonstrar com centenas de dados e referências de que maneira um futuro da água que seja seguro e igualitário pode conduzir à prosperidade e paz para todos. No outro extremo, pobreza, desigualdade e conflitos de vários tipos e níveis podem aumentar a insegurança relacionada à água. 

O documento explica que os impactos relacionados à água em conflitos costumam ser indiretos e, portanto, muito difíceis de mensurar. Entre eles estão migrações forçadas, insegurança alimentar e aumento de exposição a ameaças à saúde. 

O relatório enfatiza que desigualdades na alocação de recursos hídricos, no acesso aos serviços de abastecimento de água e saneamento e na distribuição de benefícios sociais, econômicos e ambientais são fatores que podem agir contra a paz e a estabilidade social. 

A ligação entre prosperidade e acesso a serviços de água, saneamento e higiene (WASH) está bem estabelecida por meio de impactos positivos como saúde, educação e emprego, para não mencionar a dignidade humana básica, aponta o texto.  

Algumas informações trazidas pelo relatório

  • Aproximadamente metade da população mundial enfrenta atualmente uma grave escassez de água durante pelo menos parte do ano (segundo dados do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, de 2023). Um quarto da população mundial, vivendo em 25 países, enfrenta níveis “extremamente elevados” de stress hídrico de base.
  • O estresse hídrico tem impactos importantes na estabilidade social; déficits hídricos podem estar ligados a 10% do aumento da migração em todo o mundo.
  • Em relação a eventos extremos, inundações e secas estão entre as catástrofes mais devastadoras relacionadas à água. Durante o período 2002-2022, inundações causaram quase 110 mil mortes, afetaram aproximadamente 1,6 bilhão de pessoas (com mais 57 milhões em 2022) e causaram US$ 832 bilhões em perdas econômicas (45 mil milhões de dólares em 2022).
  • No mesmo período, as secas impactaram mais de 1,4 bilhão de pessoas, mataram mais de 21 mil e provocaram perdas econômicas no valor de US$ 170 bilhões.
Relatório foi lançado na cúpula One Water, na sede da Unesco, em Paris, no Dia Mundial da Água (22 de março) (Divulgação)

As distantes metas do ODS6

O documento traz uma avaliação desfavorável sobre o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, “Água Potável e Saneamento”. Nenhuma das seis metas do ODS 6 “parece estar no caminho certo”, pontua o documento. 

O próprio relatório enfatiza, por outro lado, que é muito complexo medir essa evolução. “Com exceção da água potável e do saneamento, as deficiências na monitorização e na elaboração de relatórios tornaram extremamente difícil gerar uma análise abrangente da maioria dos indicadores da meta do ODS 6”, afirma o texto. 

Estima-se que alcançar o acesso universal à água potável, ao saneamento e à higiene (metas 6.1 e 6.2 do ODS 6) em 140 países de renda baixa ou média custaria aproximadamente US$ 1,7 trilhão entre 2016 e 2030, ou US$ 114 bilhões por ano.

A situação no que diz respeito ao saneamento adequado (Meta 6.2 do ODS) continua a ser “péssima”, diz o relatório. São 3,5 bilhões de pessoas sem acesso a esses serviços. As cidades, em particular, não têm conseguido acompanhar o crescimento acelerado de suas populações urbanas.

Para a ONU, alcançar a universalização até 2030 exigirá uma velocidade maior na resolução de déficits e lacunas em diferentes áreas: um ritmo seis vezes maior para a água potável, cinco vezes para o saneamento e três vezes para a higiene.

O relatório ressalta, porém, que uma situação de grandes eventos e rupturas globais também cria oportunidades de cooperação e transformação. Por exemplo, choques climáticos e econômicos podem alavancar a vontade política para que sejam aprovadas reformas legislativas e compromissos financeiros uma vez que os custos das atitudes de visão curta e falta de ação fiquem mais evidentes. Para a ONU, é necessário um novo conjunto de cenários econômicos e de desenvolvimento para que surja um portfólio de soluções.

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